A Copa e a pré-Copa

lequipe
Compartilhamos a opinião do L’Équipe: o aumento foi ridículo.

Um exercício de como a Copa poderia ficar melhor com 48 times (de certa forma)

A Copa vai aumentar de 32 para 48 seleções. O ponto positivo é político: mais gente participando da festa, logo mais federações satisfeitas na hora das votações na Fifa. Os pontos negativos são vários:

  • Mais times de baixa qualidade e mais jogos de baixa qualidade;
  • O formato com grupos de 3 times abre a possibilidade de combinação de resultado entre os dois times que jogam na última rodada contra o que folga;
  • Eliminatórias menos interessantes para os times fortes (classificação quase sem risco);
  • Um evento gigantesco, cada vez mais difícil de ser organizado por países em desenvolvimento.

A Copa com 48 times é um péssimo negócio do ponto de vista esportivo (ainda que economicamente possa compensar). E será que não dava para mais times participarem sem ser assim?

Pois hoje vou trazer um exercício de imaginação de como a Copa poderia envolver (de certa forma) 48 times invertendo a conta: aumentando o nível dos participantes e dos jogos sem aumentar o tamanho do evento e, de quebra, transformando as eliminatórias em uma competição ainda mais difícil e atraente. Confira na sequência.

Primeiro, entenda como vai ser a Copa com 48 seleções

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Crédito: Gaúcha ZH Esportes

Fonte: Gaúcha ZH

E se você quiser ver uma simulação bem legal de como ficaria a Copa de 2018 com esse modelo, a galera da Revista Série Z fez para você (clique aqui).

 

A proposta: eliminatórias mundiais, uma pré-Copa

Como eu disse, a proposta aqui envolveria de certa forma 48 times porque a fase final continuaria com 32 times. Mas a ela seria adicionada uma fase final das eliminatórias a nível mundial da seguinte forma.

  • Eliminatórias continentais: classificam 15 times direto para a Copa (o país-sede é o 16º classificado) + 32 times para a eliminatória mundial
  • Eliminatórias mundiais: os 32 times seriam divididos em 8 grupos de 4 para definir os 16 classificados finais (ou seja, os 2 primeiros de cada grupo).

 

Distribuição das vagas por confederação

novas-eliminatórias

Obs.: entre as eliminatórias regionalizadas e a pré-Copa, haveria uma repescagem regional entre o 7º da AFC e o 2º da OFC.

 

E qual a vantagem disso tudo?

Além de um torneio pré-Copa curto e de alto interesse, o nível da Copa aumentaria, pois os melhores garantiriam vaga na Copa independente de confederação. Isso pode soar como uma proteção a países europeus ou sul-americanos, mas é um regulamento que fundamenta a base para premiar o desenvolvimento de outras confederações: se 7 países africanos estiverem entre os melhores do mundo, nada impediria de ter 7 africanos na Copa. Agora, se só 3 conseguirem se classificar em campo, paciência.

E mais:

  • A classificação direta de ao menos 2 representantes de cada confederação (à exceção da OFC) garante uma representatividade mundial no torneio;
  • Mesmo assim, OFC, via repescagem regional e mundial vocês ainda poderiam ter 2 países ao mesmo tempo na Copa, é só ganhar em campo (o que não seria um cenário tão fantasioso caso a Austrália ainda estivesse na OFC junto à Nova Zelândia – assunto para outro artigo);
  • Aumenta a disputa nas eliminatórias locais, pois a vaga direta na fase final da Copa é objeto de desejo e se torna mais difícil de alcançar;
  • Proposta de distribuição de vagas maleáveis de acordo com desempenho técnico da seguinte forma: se em alguma pré-Copa uma confederação classificar todos os seus representantes, ela ganha uma vaga na pré-Copa no próximo ciclo, vaga essa retirada da confederação com pior desempenho (limite mínimo de 1,5 vaga na pré-Copa).

vantagem

 

Como funcionaria:

Os grupos seriam jogados em turno único (3 rodadas) e em apenas uma sede, o que possibilita muito bem que o torneio seja jogado no lugar da repescagem intercontinental atual (embora em dois jogos, há um espaço grande entre eles por conta dos fusos muito diferentes entre os países, como foi o caso de Peru e Nova Zelândia).

E essa sede poderia ser o próprio país-sede da fase final da Copa, em espécie de evento-teste, ou um dos integrantes do grupo sediando o mesmo. Nesse último caso, há duas possibilidades:

  • Sorteio da sede entre os países do grupo que tenham dois estádios em condições e garantia de segurança;
  • Direito de ser sede conquistado em campo, com o país melhor classificado nas eliminatórias de cada uma das confederações, mais os dois melhores classificados no Ranking da Fifa, recebendo esse direito (desde que tenham dois estádios em condições e garantia de segurança). Prefiro esta opção.
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Honduras e Austrália jogaram dias 10 e 15/11/17. Com um dia a mais e uma sede fixa, o torneio poderia acomodar três rodadas nos dias 9, 12 e 15.

E se esse esquema estivesse em uso nas últimas eliminatórias

Bom, em primeiro lugar, quero deixar claro que usei para esse exercício uma coisa que considero longe do ideal para determinar a classificação dentro de cada confederação: tive que comparar campanhas entre times de grupos diferentes.

A Uefa usa isso para determinar os melhores segundos que passarão à sua repescagem, então por que acho isso ruim? Simples, equipes de grupo diferentes enfrentaram adversários diferentes, então um time que pontuou menos pode ter feito isso não porque era pior, mas porque seus adversários eram melhores.

Mas, como as eliminatórias teriam que ser reestruturada para atender a esse regulamento-fantasia que criei, fazer essa comparação ainda era o melhor que eu tinha para me basear.

Então, eis quem seriam os classificados diretos para a Copa (verde), a pré-Copa (amarelo) e a repescagem AFC-OFC (azul). Equipes em vermelho ficaram fora do corte.

conmebol

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concacaf

caf

afc

ofc

 

Primeiro sorteio

Simulei dois sorteios para ver quem seriam os grupos. Na primeira simulação, o país melhor classificado nas eliminatórias de cada uma das confederações, mais os dois melhores classificados no Ranking da Fifa, além de ser sede, seriam cabeças de chave. Eis como ficaram os potes do sorteio.

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Obs.: o uso do Ranking da Fifa em si não é uma ideia ruim, o problema é que o Ranking da Fifa precisa (e vai) ser reformulado para refletir melhor os resultados esportivos e parar de premiar países que optam por não jogar.

 

Regras do primeiro sorteio:

  • Máximo de 2 países da UEFA por grupo e de 1 país das demais confederações;
  • No caso de países da UEFA, não colocar no mesmo grupo países que se enfrentaram na fase anterior.

Confira agora os grupos em um sorteio simulado.

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  • CS: Melhor da sua Confederação/Sede
  • RS: Dois melhores do Ranking da Fifa/Sede

Segundo sorteio

Na segunda simulação, o país melhor classificado nas eliminatórias de cada uma das confederações seria apenas sede, mas não necessariamente cabeça de chave. Os potes, agora, obedecem rigorosamente o Ranking da Fifa.

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Regras do segundo sorteio:

  • Cada país sede vai para um grupo por ordem de Ranking, sem sorteio;
  • Cada grupo só pode ter um país de cada pote (ou seja, nenhum país do pote do país-sede será sorteado para aquele grupo);
  • Máximo de 2 países da UEFA por grupo e de 1 país das demais confederações;
  • No caso de países da UEFA, não colocar no mesmo grupo países que se enfrentaram na fase anterior.

Confira agora os grupos em um sorteio simulado.

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  • CS: Melhor da sua Confederação/Sede
  • RS: Dois melhores do Ranking da Fifa/Sede

 

Em caso de a pré-Copa ser evento-teste no país-sede da Copa, qualquer um dos sorteios acima poderia ser válido (o primeiro, deixaria ser cabeça de chave como recompensa a países que foram bem em suas respectivas eliminatórias).

Como pode ser visto em ambos os sorteios, enquanto alguns grupos teriam francos favoritos, outros prometeriam brigas acirradas e jogos bem interessantes. Quem você acha que se classificaria em cada um deles?

Bom, é isso. A você que acompanhou esse exercício até aqui, espero que tenha gostado.