Curiosidades sobre estádios de atletismo

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A integração entre futebol e atletismo em Londres e mais

Recentemente, fiz um artigo sobre arquitetura de estádios de futebol e outro sobre estádios de atletismo. Uma crítica comum de torcidas que jogam em estádios com pista de atletismo é a distância da arquibancada até o campo.

Pois bem, o Estádio Olímpico de Londres (rebatizado de Estádio de Londres, apenas), construído para os Jogos de 2012 e readaptado após os jogos para ter arquibancadas reconfiguráveis. Ele tem uma solução engenhosa para integrar o melhor dos dois mundos: arquibancadas móveis no andar mais baixo.

As arquibancadas se retraem no atletismo, expondo a pista, e avançam sobre ela na configuração de futebol (e já recebeu até jogos de beisebol, devido a sua maleabilidade). O mandante do estádio após os Jogos de 2012 é o West Ham United. Confira na sequência outras curiosidades.


Estádios Olímpicos: muito além do atletismo

No artigo sobre estádios de atletismo, focado no Hayward Field, discorri sobre o motivo da maioria dos estádios atuais da modalidade dividirem espaço com outro esporte, em geral o futebol.

Uma curiosidade é que, durante os Jogos Olímpicos, já foi comum usar os estádios de atletismo para muitos outros esportes além do futebol. Em 1908, por exemplo, o White City Stadium recebeu também competições de futebol, tiro com arco, hóquei na grama, ginástica, luta olímpica, lacrosse, rugby, cabo de guerra e, talvez o mais surpreendente, natação, polo e saltos ornamentais (sim, tinha uma piscina no estádio).

Outras modalidades que já passaram pelo estádio de atletismo olímpico incluem hipismo, ciclismo, pentatlo, levantamento de peso, esgrima, tênis e handebol de campo. Esse uso múltiplo foi diminuindo com o tempo, até que em 1988 (relativamente bem recentemente) um estádio de atletismo viu seu último uso que não seja futebol: foram as finais dos saltos individuais do hipismo, um dos esportes mais recorrentes a usar o estádio olímpico até então.

Vale reforçar que, apesar dos estádios olímpicos em 2012 e 2020 terem sido usados exclusivamente no atletismo, ambos são projetados para receber futebol, também (o de 2012 até já apareceu aqui falando justamente sobre isso).


Menções honrosas e muitas cores

Também no artigo sobre estádios de atletismo, mostrei alguns exemplos de designs diferentes de estádios focados no esporte. Alguns, de tabela, também mostravam que era possível ter pistas de cores diferentes do habitual vermelho ou laranja terra. Vimos estádios com pistas cinzas, verde e azul, sobretudo.

Para seguir, recomendo que você já tenha lido o artigo anterior, vai ajudar no entendimento. Dito isso, vamos a mais algumas menções honrosas, seja no design ou nas cores das pistas.

Para começar, estádio mais tradicional no Texas, e outro exclusivo para atletismo na Austrália, mostrando que é possível ter duas gaiolas, seja num estádio normal ou num focado exclusivamente no atletismo (e aí disco e martelo terem espaços próprios).

Estádio de atletismo do Kidd Field, em El Paso, Texas. É exclusivo de atletismo, mais simples, sem redundâncias, mas coloca uma gaiola diferente para cada tipo de arremesso (e coloca tudo ao centro do campo).

Antes e depois do bonito estádio de Ole Miss, Mississippi. Para inverter a posição do arremesso de peso (vai saber por quê), excluíram a gaiola de disco e martelo do estádio principal (ela fica numa área anexa ao lado que aparece bem na primeira foto). Curiosamente, o dardo continua onde estava.

Estádio com layout diferente para o mesmo fim em Indiana e outro que é de um colégio comunitário em Eugene, mesma cidade do Hayward Field, mostrando que a cidade respira atletismo mesmo.

Huskies Stadium, seu layout interessante para atletismo (campo assimétrico com lançamentos todos de um lado e saltos do outro) e sua pista roxa, que não podia passar despercebida.

Continuando o giro por pistas de cores diferentes, chegamos ao novo estádio de Baylor, com sua pista verde.

Curiosamente, o antigo estádio de Baylor era quase todo gramado ao centro, fora um quadradinho para salto em altura e dardo. E o arremesso colocado fora do espaço central (mas ainda dentro do campo de visão da arquibancada) era o de peso. Já o projeto inicial do estádio novo era diferente do que acabou sendo executado, e previa uma gaiola de cada lado.

De um com pista verde, para um quase cem por cento verde. Esse é o estádio Vallehermoso, que fica em Madri, e ganhou o apelido online de “o estádio mais verde do mundo”.

Do verde para o amarelo bem brazuca da Universidade da Califórnia em Berkeley. Realmente fica um visual bem diferente.

Mais brazuca que isso, só o estádio da Knoxville High, no Tennessee. Pista listrada de verde e amarelo. Olha que isso é uma instalação de ensino médio, viu? Melhor que muito estádio por aí.

E sim, as pistas listradas são permitidas. Para vir para um exemplo no Brasil, de fato, eis a pista do Mangueirão, em Belém do Pará, que foi sede dos Jogos Sul-Americanos de 2002. Mais discreta, em dois tons de azul, mas é listrada e aprovada.

Para encerrar as menções honrosas, a bonita ação da Nike na pista do LA City College para celebrar o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Não é uma pista padrão internacional, diga-se, só são seis raias.


E uma utopia para estádios de atletismo

E como estádio da utopia do atletismo, deixo o seguinte pensamento. Você se lembra daquelas pistas como -da Texas A&M e LSU, as que parecem com as pistas indoors, mas tem o inconveniente de deixar os arremessos longos fora do estádio principal?

Pois bem, imagina agora montar um espaço assim num estádio com gramado retrátil e usá-lo para as provas de arremesso longo? Manteria os atletas mais populares ao centro sem jogar para escanteio os arremessadores, que é o pecado desses estádios.¹

Claro que isso aí não se pagaria só com atletismo e é mais fácil imaginar o uso disso em estádio em que essa tecnologia já existe, como o Sapporo Dome no Japão. Só me passaria pela cabeça, de verdade, isso ser usado pontualmente em um mundial ou Jogos Olímpicos. Mas fica como exemplo da tecnologia em si, porque os estádios que achei com esses campos não parecem ter espaço para uma pista de atletismo oficial de 400 metros (Sapporo Dome incluso).

1- Outra opção pensada que seria bem mais simples seria montar uma tapete portátil de espuma firme na área de pouso dos arremessos longos no horário dos eventos, tal como alguns espaços de arremesso de peso indoor fazem. Eu só não sei se isso funcionaria para o dardo, no sentido de ele conseguir ser fincado no solo. Então, se era para pensar num estádio utópico, chutei para cima.