Do erro métrico ao milimétrico

O jogador do Sport (de branco) mais ao topo da imagem vai receber o lançamento e marcar um golaço. Um golaço salvo pelo VAR.

Opinião: dois lances no Brasileirão esfregaram na nossa cara a importância do VAR

Noite de quinta, 3 de setembro. O VAR vira protagonista de nova polêmica nas mesas redondas, seja de comentaristas profissionais ou de botecos, por mais um impedimento milimétrico marcado anulando um gol que abriria o placar para o São Paulo frente ao Atlético Mineiro (para ser justo, confirmando a marcação de campo). Como sempre, muita gente esbravejando contra o absurdo de onde as linhas passam, que é impossível confiar que a tecnologia seja tão precisa e que o VAR tem que acabar. Confira na sequência os lances que mostram o quanto esse pensamento está errado.

Na mesma noite, o que todos que esbravejavam contra o VAR fizeram questão de não mencionar foi o que ocorreu no jogo Grêmio e Sport: o Leão da Ilha só teve seu primeiro gol confirmado por conta de o VAR corrigir a marcação absurda da arbitragem de impedimento no lance da imagem acima. Um erro métrico, não milimétrico (dá para chutar facilmente ao menos uns dois metros de posição legal). A memória do torcedor é curta, isso sempre se soube. Mas ninguém imaginava que ela era tão curta, a ponto de se esquecer que há apenas dois anos a gente não discutia impedimentos por questão de centímetros, e sim erros como os acima, que não eram corrigidos.

Aqui, um adendo para o qual o lance acima também é exemplar. Sabe aquela pergunta recorrente dos narradores “por que deixa a jogada seguir se o impedimento na origem era claro?” Então, desmemoriados, como a imagem acima nos lembra, a história cansou de nos ensinar que o julgamento de impedimentos claros por bandeirinhas não é nada confiável. É por isso que é melhor deixar o lance seguir ao invés de anular um possível gol com um erro “convicto de que estou acertando” na origem.

Se o lance fosse na série B (sem VAR), seria confirmada a marcação absurda e paciência.

No jogo do fim de semana seguinte entre São Paulo e Fluminense, novo erro crasso corrigido: em disputa de bola na área do Fluminense em que o zagueiro carioca claramente sofre a falta do são-paulino, o juiz havia marcado pênalti, coisa tão absurda que ao conferir o VAR ele não só retificou a marcação como viu que a falta era passível de cartão amarelo para o são-paulino. A equipe de transmissão do SporTV foi muito feliz ao comentar o seguinte: se o lance fosse na série B (onde não há VAR), seria confirmado o pênalti absurdo, azar do Flu e paciência.

O VAR tem falhas? Claro. Tem que melhorar? Muito. Ao menos no Brasil, perde-se muito tempo, usa-se em lances desnecessários, falta transparência na comunicação com o público. Mas os benefícios claros que ele já trouxe são incontestáveis, como nos lances acima. Quem clama pela sua extinção, ou começou a ver futebol no último ano, ou precisa seriamente de um check-up de memória.

Fontes para conferir os lances: GRE x SPO | CAM x SPA | SPA x FLU